Outro dia, para minha surpresa ouvi uma pessoa muito querida e também madura dizer que acredita em contos de fadas, mas que na hora do seu “felizes para sempre” o filme acabou e ela se viu na encruzilhada de seguir talvez a maior jornada de sua vida: de um lado a dor da perda, do outro o doloroso perdão. Caminhos tão distintos de palavras tão parecidas.
Nenhum caminho era fácil, sem dor, sem lágrimas, mas ao mesmo tempo havia uma certeza, um dos caminhos já percorrera, o outro seria o grande desafio da sua vida.
A escolha não era simples. Mas entre outras coisas, havia o fato de gostar de novas caminhadas por caminhos inexplorados, embora quisesse a paz da tranqüilidade, a direção que viu se abrir frente a seus olhos não continha esta opção.
Quando há espinhos por todos os lados, seguir em frente não é questão de dar apenas um passo, mas de saber que apesar das feridas, há um motivo para este passo ser dado. O sangue jorra e a dor não diminui, e entre este longo momento de suplício há raios de luz seguidos de tormentas, e a inconstância do tempo contrasta com a constância da dor que a faz chegar ao auge do sofrimento, os espinhos penetram, o corpo inteiro dói e os pensamentos girando em mil quadros por segundo tonteiam, e este turbilhão de agonia faz com que as certezas virem pó e o ferro queime tão forte que apenas a mão da razão é capaz de dar-lhe um pouco de ar e fazer com que as forças se unam para dar continuidade à batalha.
É dado o momento do equilíbrio, onde mesmo retalhada e ferida, a certeza de querer lutar faz com que a cabeça se erga e o mais difícil dos passos enfim seja dado: o primeiro. Há todo um novo caminho pela frente e apenas duas certezas: a dor a acompanhará por longo período, e nesta direção há uma companhia para lhe dar a mão a toda e qualquer hora, mesmo naquelas em que certeza lhe parecer falha, a dor latejar, as pernas fraquejarem.
Haverá aquela mão dia e noite a puxando para seguir em frente e encontrar o mesmo vale verde que outrora a fez sonhar e sentir a bruma da felicidade, aquele cheiro inconfundível que só os corações apaixonados e entregues conseguem sentir.
Então no momento certo, todos os espinhos a deixarão, a dor cessará, a ferida cicatrizará e o “felizes para sempre” da sua vida será enfim escrito e estrelado por ela, com a companhia inseparável da mesma mão que um dia a apunhalou, mas que ela ao escolher o caminho do perdão, concedeu a chance de ser novamente a mão do afago, do carinho e do amor. Porque apesar de tudo, seu conto de fadas sempre passou pela certeza de ser escrito a quatro mãos.
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